Rock Gestão - Tente outra vez
- Luiz Totti
- 7 de jun. de 2019
- 5 min de leitura
Levante sua mão sedenta e recomece a andar...
Não pense que a cabeça aguenta se você parar
A música inspira e, se for seu gênero favorito, então, ainda mais. Um dia desses, ouvindo minha playlist no carro depois de um dia difícil no trabalho, começou a tocar "Tente outra vez", do nosso Maluco Beleza Raul Seixas e aquilo foi como a luz do farol mostrando ao capitão os perigos diante de si. Claro que a música ficou em looping, bem como as ideias em minha cabeça, tentando decifrar esse enigma de 10.000 anos atrás: o que leva as pessoas a desistir tão fácil?
Seu parto não aconteceu na primeira vez que você quis sair do útero de sua mãe, você fez, na verdade, inúmeras tentativas para sair da segurança monótona para o risco constante que a luz da vida te traria. Já imaginou se você tivesse desistido na primeira vez que tentou? Ao dar os primeiros passos 100% entre 100% das pessoas caiu e sentiu dor, algumas até se machucaram mas, mesmo assim, insistiram até conseguir. Já imaginou sua vida se, após o primeiro tombo você tivesse desistido de tentar andar de novo? E assim, para cada estágio da vida, você tentou sempre mais de uma vez, às vezes muitas, para chegar onde queria. Se uma criança não tem medo de errar, o que desenvolve na gente esse sentimento quando a vida pega no breu para valer? Em minha opinião, os estímulos externos oriundos do ambiente, dos conceitos morais e dos históricos familiar, educacional, profissional e social ou têm um papel muito importante no desenvolvimento do medo de errar. A forma como a pessoa é ensinada a avaliar riscos e lidar com o erro definirá como ela reagirá diante dos insucessos do dia a dia.
Quem nunca ouviu frases como “você vai se arrepender” ou “vai ter que arcar com as consequências”? Quem nunca ouviu isso na vida que me dê o primeiro dislike (como ando moderninho não?). Claro que não há nada de errado em tentar avisar que algo não vai dar certo ou que o caminho escolhido talvez não seja aquele ideal, dadas as circustâncias do momento. Mas ao frisar no “se arrepender”, estamos incutindo o medo de errar, que é o fator congelante para qualquer ser humano. Poxa, Totti, então você quer dizer que podemos fazer as besteiras que quisermos e está tudo bem? Curto e grosso: NÃO, não seja a mão que agride, a língua que fere, a caneta que ofende (isso é sociopatia), mas a voz que canta, que dança e que gira, bailando no ar e fazendo as coisas acontecer. Liberte-se, cresça.
Um outro ponto é a reação do sistema ao erro cometido. Frases como “NUNCA mais faça isso”, “você fez sua prima chorar” ou “você pensou que isso iria afetar o Joãozinho” entre tantas outras similares a essas ensinam que você tem que agradar a todo mundo. Para início de conversa, não existe uma única ação em qualquer lugar que vá ser favorável a todos e irá agradar a 100% dos envolvidos. Por isso, não importa o quanto você foque em ser perfeito, alguém será afetado, no final. Isso seria razão para se arrepender e não tentar de novo? Curto e Grosso: NÃO, afinal, como diz o Maluco beleza, a água viva ainda tá na fonte e você tem dois pés (leia “força”) para cruzar a ponte e, o mais importante, nada acabou!
O medo de errar é um fator congelante de suas iniciativas. O arrependimento per si é sinal de não aprendizagem. Ao se arrepender, sem entender a situação, você está mandando uma mensagem a si mesmo para não tentar de novo, pois poderá errar, e isso é absurdamente limitante para seu desenvolvimento. Quem nunca cometeu erros bisonhos em sua vida ou carreira que me dê o segundo dislike! Não existe. Uma vez que esteja em uma organização ou que faça parte de uma sociedade em que você tem que tomar decisões ou executar uma decisão tomada por alguém você já dará o primeiro passo com 50% de chance de dar errado. É estatístico e histórico. Tenha a certeza: você vai tomar várias decisões erradas em sua vida.
Assim, o que você faz após cometer o erro é que fará toda a diferença na sua vida e na vida de tantos outros ao seu redor. Chorar não vai resolver o problema. Apontar culpados irá trazer outro monte de problemas. Se eximir e fingir que não foi com você o fará ficar isolado e deprimido. Claro que você pode adotar qualquer uma dessas e tantas outras e ainda ficar “de boas”, mas, sério? Para que?
A única saída que te faz mais forte é, em primeiro lugar, assumir o erro, chamando para si a responsabilidade; isso fará com que as pessoas te respeitem e acreditem mais em você no futuro. Ao mesmo tempo, se desculpe com quem foi afetado direta ou indiretamente pelo seu erro, ainda que não intencionalmente, isso se chama honradez. Depois, analise o contexto da situação, verifique o que foi feito, como aconteceu e APRENDA! Aprenda com o erro e crie rotinas internas para que não o repita. Veja, não tente se preparar para não errar, você vai errar de novo! Ponto! Mas vai errar um erro novo e, se você se acostumar a usar esse ciclo sua margem de erro irá diminuindo com a experiência e com o tempo.
Permita-se errar. Só erra quem faz, diz o ditado. Quem fica em um sofá assistindo TV tem muito menos chance de errar do que quem se lança ao desafio e vai tentar algo novo. Mas o prazer de ver as coisas acontecendo é impagável. Dentro de uma organização aqueles que mais erram são também os que mais tentam e, por consequencia, os que mais acertam e mais realizam, sendo de vital importância para a eqiupe e para os resultados. Você, líder, não puna o erro! Valorize o acerto, premie as vitórias e ampare quando alguém do time erra, ajude-o a entender o erro e a tentar de novo!
Não “meta o louco”, não precisa ser um cowboy fora da lei, nem inconsequente, mas tente... e erre... e aprenda... depois venha aqui contar prá gente como foi seu sentimento!!!!
O rock foi um movimento que nasceu para romper barreiras, quebrar paradigmas, derrubar preconceitos e sacudir o mundo, cresceu às custas da busca por uma mudança de mentalidade e da vontade de mudar o status quo e nunca morreu (nem morrerá), apesar de tantos erros cometidos pelo caminho, e nos ensina muitas lições. Ninguém nem nada irá morrer por não ter consiguido o que queria na primeira tentativa... talvez o sonho seja adiado ou a rota tomada terá que ser outra, mas nunca irá terminar. Por que se há mais uma lição que Raulzito me ensinou é: Tente! Nunca diga que a vitória está perdida, pois, se é de batalhas que se vive a vida, como não tentar outra vez? Vai, tente (e erre) outra vez.
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