FEDEAPÁ - Festival de Desculpas que Assola o País
- Luiz Totti
- 16 de ago. de 2012
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de set. de 2018
Sim, é uma referência escancarada ao famoso FEBEAPÁ, de Stanislaw Ponte Preta, cuja primeira versão foi lançada no ano em que fui concebido e a segunda, no ano em fui “parido”. Na obra, ele dizia que "É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o País”, e acho que ainda mais difícil é precisar o momento em que a desculpa (esfarrapada ou não) passou a dominar o Brasil. Aproveitando os últimos episódios divulgados na mídia, fiz um pequeno apanhado à La FEBEAPÁ das desculpas e justificativas para falhas, sejam elas esportivas, políticas, éticas ou morais (não é papel deste blogueiro julgar, mas somente apontar, discutir e traçar paralelos!!!). Então, vamos lá:
Infelizmente não consegui fazer uma boa competição ontem na qualificação da Olimpíada. O vento estava muito inconstante dentro da pista. Algumas vezes ajudava e algumas atrapalhava.” (Fabiana Murer, Salto com vara).
“Na verdade, eu errei muito a corrida, mas o salto em si estava bom. O vento foi um dos fatores de eu ter errado tanto a minha corrida”, (Jonathan Silva, salto triplo).
"Não digo que abalou, mas o Leandro é uma referência, e isso mexe um pouco, não tem como negar. Nós reunimos a equipe ontem para conversar e dizer que isso aqui é uma guerra, e que é assim mesmo” (Ney Wilson, da seleção de judô, ao comentar que os demais atletas sentiram a derrota do principal lutador)
“A gente passou por muitas coisas nesses últimos tempos, e ontem eu tive mais uma. Eu procurei me focar, mas mexe, não tem como negar. Somos muito ligados. O sofrimento de um é o sofrimento do outro”. (Daniele Hypolito, ginasta)
"Ela não era uma funcionária de marketing. Ela era uma bailarina. Vocacionada e preparada pelo seu pai para ser a banqueira. Ela não tinha vocação para isso (banco)", (Dias José Carlos Dias, advogado de Kátia Rabello no Mensalão)
Nos dois primeiros casos, o vento, um elemento externo, foi o considerado culpado pela falta de performance; independentemente de qualquer fator técnico que justifique (e eles estão por aí, podem googlear), é fato que os fatores externos estão nos rodeando diuturnamente, e, embora sobre eles não tenhamos controle algum, é nosso dever conhecê-los e nos prepararmos com planos contingenciais caso eles ocorram e usá-los a nosso favor. Um bom exemplo disso era a forma de pilotar de Senna sob chuva, comparativamente a Allan Prost. Ou o vídeo do Joseph Climber (quem se lembra???).
Nos casos da interferência emocional da ginástica e do judô, é óbvio que quando um colega fracassa, há uma tendência de nos sentirmos enfraquecidos e ter nossa auto confiança abalada. Mas isso também é fato corriqueiro, uma venda que se perde, um lote que se estraga, etc, e nós devemos ter absoluta convicção daquilo que estamos nos propondo a fazer, aumentar o nível de concentração e buscar a excelência outra vez.
Finalmente, no caso do advogado do mensalão (vamos desconsiderar o jogo político e as artimanhas jurídicas, vamos focar no comentário em si), há a alegação de que o erro, o desvio ocorrera por conta de uma falta de vocação para executar o que dela era esperado. Respeitadas as devidas diferenças (inclusive de ética), não é raro julgarmos pessoas pela sua falta de motivação numa família ou empresa, quando o fato é que o indivíduo, muitas vezes, não tem a menor vocação para fazer aquilo. É aqui, nesse erro de análise que residem os grandes problemas de promoções que não dão certo, pois em muitas vezes se analisa a ambição, competência, mas não a vocação. E fazer uma pessoa que tem vocação para vendas, por exemplo, se tornar um excelente contador não é tarefa fácil, concordam?
Enfim, temos que eliminar o FEDEAPÁ de nossas equipes, transformar o insucesso em algo muito positivo e construtor de um novo estágio, um outro nível. Em vez de desculpas e justificativas, uma profunda análise do que causou o problema e um plano de ação para evitar que se repita. Mas, como em tudo, cuidado com os exageros, caso contrário você ainda poderá se pegar falando como o Diego Hypólito: “Amarelei”!!!!!!
E para vocês, queridos leitores, quais foram as últimas desculpas mais esfarrapadas? E como se correlacionam com atitudes e comportamentos corporativos?
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