Inovação e a parabola do ovo e da galinha
- Luiz Totti
- 9 de ago. de 2019
- 6 min de leitura
Inovação é chave para gerar riquezas
ou
é preciso gerar riquezas para se ter inovação?
Fazer aquilo que sempre fizemos jamais nos levará um passo adiante de onde hoje estamos e a chave para abrir as portas e janelas de nosso futuro está em algo que sempre está na moda, todos falam, declamam em verso, prosa e grunhidos mas que não consegue ser facilmente transformada em realidade em muitos países: a inovação.
Me chamou a atenção, um dia desses, o relatório de Inovação Global (GII – Global Innovation Index) em que o Brasil estava posicionado como o 66º país entre 129 economias estudadas em 2019 (caiu de 64º em 2019), ou seja, bem no meio do pacote, perdendo para nações como Vietnan, Mongolia, Kuwait, Costa Rica, Irã, entre outras. Na América Latina ficamos em 5º, atrás de Chile, Costa Rica, México e Uruguai. Os gráficos abaixo mostram a evolução de cada país da nossa região e que em determinado momento figuraram na lista. A partir de 2017 a Venezuela parou de reportar dados para que pudesse ser incluida na lista, mesmo caso de Cuba que nunca permitiu acesso a seus dados e, embora seja uma das grandes economias da região, não aparece nessa lista.

As posições tem sido alteradas minimamente nos últimos 5 anos, o que mostra que muito pouco tem sido feito pelos paísepara melhorar esse ambiente propício ao empreendedorismo e à inovação. O Brasil, por exemplo, entrou em queda livre desde de 2012, estabilizando nos últimos anos. Para entender melhor, é preciso se aprofundar na análise dos detalhes que formam esse indicador e, quando buscamos por esses detalhes, encontramos as seguintes alterações significativas de 2012 a 2019 (em 2011 houve introdução de novos elementos, o que alterou significamente a pontuação, por isso exclui da análise):
Melhoraram:
Pioraram:
Ou seja, estamos desenvolvendo capital intelectual e a nossa economia é grande o suficiente para permitir mais trabalhos de Pesquisa e Desenvolvimento, e o histórico tem mostrado nossa evolução (não tenho dados para explicar a razão dessa melhora); porém, a insegurança causada pela instabilidade política do país desestimula o investimento e, portanto, acaba limitando a criatividade e a vontade para inovar. Por não haver segurança sobre o futuro, fica difícil investir, principalmente para empresas Globais que necessitam um ambiente mais favorável, estável e seguro que pode ser encontrado em outros países. E isso nos leva a dar uma olhada mais próxima nos líderes desse campeonato.
No topo dessa cadeia alimentar, quer dizer, cadeia inovadora, os 10 países mais inovativos são: Suiça, que lidera já por quase 10 anos consecutivos, seguida por Suécia, USA, Holanda, UK, Finlandia, Dinamarca, Singapura, Alemanha e Israel, este último aparecendo pela primeira vez na lista, derrubando a Irlanda para o top 20, como pode ser visto no gráfico abaixo:

E o que faz com que esses países se diferenciem dos demais fazendo-os se manter como máquinas inovativas no topo dessa lista? Que lições eles têm a nos ensinar? Difícil generalizar e ainda mais gerar consenso em torno desse tema pois, se perguntarmos isso a 10 pessoas, teremos 10 respostas diferentes... ou, talvez, 15! Então, perguntei às minhas 10 personalidades e, juntos, chegamos à seguinte ponderação: quem tem o dever de gerar inovação não é o poder público, que detém, porém, o papel de facilitar o caminho para a inovação, seja ela feita através de Universidades, Entidades de Pesquisa ou iniciativa privada, na indústria, comércio ou serviço para que esses, sim, tragam inovação ao país. Partindo desse pressuposto (do qual muitos podem – e devem – discordar e debater), elegi alguns fatores, entre dezenas, que essas instituições precisam para que exista o ambiente ideal para inovar, que seriam seriam: mercado consumidor, tamanho da economia, facilidade para fazer negócios e ética.
Decidimos (eu e minhas personalidades), buscar rankings com os quais se pudesse criar paralelos e avaliar a existência, ou não, de correlação entre eles. Assim, tomando como ponto inicial o GII, fiz uma comparação com população (somente como referência de escala), PIB PPP, PIB PPP/capita, percepção de corrupção e índice de facilidade para fazer negócio (as definições e fontes estão ao final desse artigo). A tabela abaixo mostra a comparação feita (o ano de 2018 foi o escolhido por não haver ainda dados disponíveis para a maioria dos indicadores em 2019).

Oras, pois pois!!!, como diria minha avó portuguesa: então quer dizer que países que permitem mais inovação são também aqueles em que fazer negócios é mais fácil, onde há menos corrupção e, como consequência (ou seria a causa?), o PIB per capita é mais alto? Não estou surpreso, e nem deveria, assim como também não surpreende a constatação de que, com relação ao PIB, o valor nominal não seja fator importante para que a inovação se instale em um país.
Uma outra forma de olhar para essa combinação é sobrepor, então, o ranking da inovação e do PIB/capita sobre o mapa da corrupção que o tranparency.org traz em sua página principal, como vemos abaixo:

Assim como fica difícil determinar (sei que já descobriram, mas vou fazer de conta que não sei) quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, fica difícil determinar se um país tem mais inovação pois gera mais riqueza por habitante ou gera mais riqueza por ser mais inovador! Eu acredito que seja um ciclo virtuoso: você inova e isso gera mais riqueza, que permite inovar mais e assim sucessivamente.
O que é certo, todavia, é que onde há corrupção não há inovação, pois o ciclo virtuoso necessita que parte da arrecadação de um país seja investida em infraestrutura e educação, que se facilite o empreendimento, que se tenha segurança jurídica e política para ter estabilidade e, principalmente, que haja pouca interferência do Estado em questões comerciais. Em um país corrupto há uma preferência pelo engessamento burocrático (criar dificuldades para vender facilidades) e, assim, parte da arrecadação vai para fins escusos, o investimento em infraestrutura é feito à base do toma lá, dá cá, evita-se educar melhor a população, há preferência pelas empresas públicas em detrimento das privadas e, com tudo isso, gera-se insegurança política e jurídica, o que assusta e afasta o investimento em inovação que, por natureza, já carrega um altíssimo risco em si mesmo.
Essa análise das correlações, distante de querer ser soberana, demonstra claramente os pontos do parágrafo anterior e demonstra que o Brasil, com a oitava maior economia do mundo, DEVERIA estar melhor posicionado nessa escala de países inovadores. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer para estar entre a elite inovadora do planeta o que, como consequência, nos colocaria num outro patamar de geração de riquezas. O Brasil está repleto de mentes criativas em todas as esferas, somos extremamente flexíveis e nos adaptamos facilmente a qualquer ambiente e somos, por natureza, extremamente otimistas. Nos falta a vontade política, o apoio e as condições propícias para nos tornarmos gigantes como gigante é nosso povo e nossa economia.
Acabar com a corrupção é um passo, talvez o mais importante, pois isso cataliza o ciclo virtuoso que tanto precisamos: o fluxo de capital indo para os locais corretos, atendendo às necessidades básicas da população, gerando emprego, tendo as instituições trabalhando de forma isenta e efetiva, eliminando a sensação de impunidade e gerando, assim, estabilidade política e econômica para, finalmente, deixar o empreendedor e/ou o pesquisador gerenciarem apenas o risco de seu negócio e de sua criação, sem se preocupar com as criaturas. Que assustam!
Definições e fontes
Inovação: O GII (Índice de Inovação Global) está em sua 12ª edição e é co-publicada oeka Universidade Cornell, pelo INSEAD (Institut Européen d'Administration des Affaires) E WIPO (Organização Mundial da Propriedade Intelectual). A pesquisa é feita com 129 países e seu ranking é construido baseado em 7 componentes princiapais: Instituições, Capital Humano & Pesquisa, Infraestrutura, Sofisticação do Mercado, Sofisticação dos Negócios, Conhecimento e Tecnologia e Criatividade, cada um com seus sub componentes. (Fonte: https://www.globalinnovationindex.org/about-gii#history)
Facilidade de fazer negócios - Doing Business: publicação do Banco Mundial em sua 16ª edição apresenta indicadores quantitativos sobre as regulamentações dos negócios e proteção de propriedade intelectual para 190 economias no Mundo. Alguns dos 11 componentes do indicador são: facilidade para iniciar um negócio, conseguir licecças de operação, aquisição de crédito entre outras. (Fonte: https://www.doingbusiness.org/en/reports/global-reports/doing-business-2019)
Corrupção - o Portal Transparency Internacional avalia 180 países e territórios e os elenca de acordo com a percepção de corrupção dos órgãos públicos de acordo com analistas e executivos. (Fonte: https://www.transparency.org/cpi2018)
PIB PPP – PIB é a somatória dos valores de bens e serviços produzidos por um país em um determinado ano. Como cada país reporta o seu PIB em moeda local, para eliminar essa distorção se desenvolveu o PIB PPP (Purchasing power parity – Em português PPC: paridade do poder de compra), ou seja, mede e compara as moedas de diferentes países em termos de poder de compra (Fonte: http://statisticstimes.com/economy/countries-by-gdp-ppp.php)
População: Dados dos últimos censos disponíveis, a maioria de 2018 (Fonte: http://worldpopulationreview.com/countries/)
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