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A solução não é alugar o Brasil

  • Foto do escritor: Luiz Totti
    Luiz Totti
  • 14 de set. de 2018
  • 6 min de leitura

Atualizado: 24 de set. de 2018



A solução não é alugar o Brasil, como dizia Raul Seixas. Mas vai ser preciso trabalhar duro e tomar medidas, talvez pouco populares, de longo prazo para entrarmos na elite da produtividade global.

Outro dia eu vi um post do Ricardo Amorim aqui no LinkedIn sobre a produtividade (PIB/cidadão empregado) que me chamou a atenção e decidi olhar mais de perto para tentar entender um pouco mais.


O tema produtividade sempre me chama a atenção, bem como os fatores associados à ela. No post do Ricardo ele compara a evolução da produtividade entre 6 países: Coréia do Sul, Chile, México, Brasil, China e Índia. Também me chamou a atenção a posição do Brasil entre aqueles 6 países, pois eu acreditava que seríamos melhor posicionados em um ranking assim, mas ficar lá na rabeira não me deu um sentimento positivo. Eu expandi um pouco mais esse universo e inclui países como EUA e Dinamarca (para incluir a maior economia do mundo e uma nação reconhecidamente produtiva na Europa), e Venezuela e Argentina (pura curisosidade com dois de nossos que também sofrem com as questões econômicas). Pensei em incluir a Russia para compor o BRIC, mas não havia dados disponíveis antes da década de 90.


Quero esclarecer que não fiz mais análises e pesquisas para entender os momentos de outros países e as razões para as variações. Para isso, foquei no Brasil apenas. Também não é minha intenção entrar nos aspectos políticos: apenas fiz uma associação das crises e crescimentos com cada período presidencial e anotei os principais pontos históricos que levaram às alterações de cada um dos ciclos. Tampouco inferi à análise os ajustes de variação do valor das moedas, pois os dados são todos em U$ (dolar americano). Portanto, não ouso discutir se os números são 100% fiéis à realidade, focando apenas nas tendências e tentando entender as diferenças. Se alguém pudesse dar sequência e aprofundar as análises, adoraria ver os resultados, até para confirmar ou desmentir minhas conclusões.

Para alinhar conceitos, duas definições básicas que são a base desse artigo:

PIB: O Produto Interno Bruto (PIB) é o conjunto de riquezas gerado em um país. Trata-se de um índice econômico que engloba o cálculo global de todas as atividades econômicas. O PIB é a soma de diversos fatores: o consumo nacional de bens duráveis e não duráveis, os investimentos de capital, as despesas da administração pública e a balança comercial (diferença entre as importações e exportações de um país). - Via conceitos.com: https://conceitos.com/pib/ - (nos gráficos aparecerá como GDP)


PIB/pessoa empregada: é o total de riqueza gerada por um país dividido pelo total de pessoas empregadas naquele determinado ano. (aqui descrita como GDP/emp, expressa em milhares de dólares/indivíduo)


A fonte desses dados pode ser encontrado no site da “The Conference Board” (https://www.conference-board.org/data/economydatabase/), com uma lista gigantesca de países (eu contei 123, mas posso estar errado – planilha Excel disponível para download).


O Brasil


Quando isolei os dados do Brasil, notei alguns grandes saltos e vários mergulhos na produtividade e tentei entender as causas. O primeiro grande salto veio entre as décadas de 50 a 80, durante o período militar e coincidiu com o processo de industrialização do Brasil. O país passava de uma economia basicamente extrativista para uma matriz mais diversificada, com a chegada das primeira indústrias dos setores metalúrgico, siderúrgico, automotivo, químico e farmacêutico além da indústria naval no Rio de Janeiro.


Para atingir esse desenvolvimento, o governo celebrou vários empréstimos internacionais, principalmente com os EUA, gerando uma grande dívida externa. Uma mudança nas políticas bancárias e financeiras dos EUA causou uma enorme mudança na estrutura da dívida brasileira, e a consequente subida dos juros trouxe uma deterioração do nosso déficit que, associada à queda das exportações, gerou uma crise de liquidez, afetando fortemente o emprego e o PIB. Esse foi o momento da primeira grande queda da produtividade do empregado brasileiro em nossa história. Uma outra crise, dessa vez a da hiper inflação (se você se lembra sabe o quão difícil essa época era...) ocorreu antes mesmo que a economia pudesse se recuperar, ainda mais com as tensões da passagem do bastão dos militares para a sociedade civil. 


A retomada viria somente após a implementação do Plano Real, por FHC, no início dos anos 90, ou seja, após uma década de dificuldade. Apesar da crise da Russia no final da década, houve um grande período de relativa tranquilidade, que se transformou em outro período de crescimento após a entrada de Lula no Governo. Isso foi possível graças à estabilidade econômica, dólar e preços de commodities favoráveis, ajudando nas exportações. Mesmo a crise do sub prime nos EUA em 2008 não foi suficiente para destruir a tendência desse crescimento.


Finalmente, em tempos mais recentes, a crise que chamei de Crise da Petrobrás causou outra grande redução do PIB e, como consequência, um grande mergulho na produtividade.


O gráfico 1 mostra a evolução da produtividade do empregado brasileiro


Gráfico 1 PIB/população empregada




           Fica claro que políticas econômicas que favoreçam o crescimento da indústria e das exportações associado a um mercado externo favorável para absorver essas exportações faz com que o PIB cresça em um ritmo que permita a melhora da produtividade. Isso independentemente de visão ou ideologia política do governo em questão, embora saibamos que políticas podem gerar um efeito na economia muitos anos depois de implementadas. Essa era uma resposta já esperada, mas o que me surpreendeu foi notar que os efeitos das crises internas têm efeito mais duradouro do que as crises externas, além de serem muito mais profundos na economia e sociedade. Isso me sugere que a crise de confiança nas instituções internas gera muito mais resistência ao investimento, fazendo com que a recuperação seja mais lenta. Como dizia meu pai, construir confiança demora anos, mas para perdê-la basta um único deslize.


           A evolução da produtividade é clara, mas modesta: cada empregado brasileiro gera em média U$ 30.8 mil em 2018, contra U$ 25.1 mil 30 anos atrás.


O Brasil na América Latina


Olhando o gráfico do Brasil isoladamente, temos a sensação de que há um crescimento e que estamos indo na direção correta, mas como fica quando comparamos com algumas das nações da América Latina? Lembrando que somente comparei com México, Chile, Argentina e Venezuela, Brasil só performa melhor que a Venezuela, mas muito mais pela queda absurda de produtividade do nosso vizinho do que por virtudes nossas. Veja o gráfico 2 para comparação:


Gráfico 2 PIB/população empregada de países da América Latina




O Brasil nunca superou nenhum desses países ao longo da história desde 1950, e apresenta o crescimento mais modesto de todos nos últimos 20 anos (7.9% contra 29.7% do Chile, por exemplo), melhor apenas que a Venezuela. O Chile adotou a abertura de seus mercados há muitos anos e hoje é considerado o país com menos barreiras alfandegárias em toda a região, ao passo que o Brasil ainda insiste nas altas tarifas e complexidades nos processos internos. Não conheço a história da Venezuela, mas a dependência quase que exclusiva da exploração do Petróleo associada à estatização e redução da capacidade produtiva de outras indústrias deve ter tido um impacto importante. Vale ressaltar que o governo Chávez entrou em 1999 e, portanto, a erosão já vinha acontecendo antes, mas piorou dramaticamente nos últimos 5 anos. Bolivia, Peru e Equador também ficam abaixo de U$ 30 mil/empregado, a título de informação.


O Brasil no Mundo


Pois bem, vamos ampliar a perspectiva e trazer o Brasil para o cenário Global, incluindo os asiáticos China, Coréia do Sul e Índia, a européia Dinamarca e os Estados Unidos da América. Americanos e Dinamarqueses, graças à industrializção e abertura de mercados terem ocorrido muito mais cedo nessa linha do tempo têm um crescimento constante e extramemente resiliente às crises externas. Coréia do Sul deu um grande salto desde o final da década de 80 e a China, desde que decidiu investir pesado na industrialização e geração de valor também apresenta um crescimento muito forte. 


Gráfico 3 PIB/população empregada de alguns players Globais




Agora a situação do Brasil fica ainda mais complicada. Entre essas 10 nações ocupamos o modesto 7º lugar. Fica também nítido que países que focam na produção de bens de alto valor agregado tendem a ter índices de produtividade mais altos. A venda de commodities, apesar de treazer volume alto, diminui a produtividade por ter preços mais baixos. Veja o México, que praticamente produz intermediários para os EUA, o Brasil com as commoditie agrícolas, argentina com agropecuária e a Venezuela, com o Petróleo. Por outro lado, EUA e Dinamarca com muita tecnologia, China e Coréia com produtos mais caros (mesmo a Rússia, que em 2018 teve U$ 58 mil/empregado se posiciona muito bem nesse quesito).


Os países com forte crescimento da produtividade (e sustentável) apresentam algumas características que nós não temos no Brasil, e que deveriam ser parte dos planos dos próximos Governos, se quisermos fazer parte da elite produtiva do mundo:

  • Economia aberta e acordos comerciais com vários países/regiões no mundo

  • Foco em produtos de alto valor agregado

  • Facilidade de produção e ambiente favorável à indústria

  • Reformas estruturais essenciais (fiscal, trabalhista, eleitoral)

  • Isso tudo sem falar que temos que extirpar a corrupção e acabar com a impunidade

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